Tuiuti vai cantar João Cândido, o ‘Almirante Negro’, em 2024; confira a letra

A Paraíso do Tuiuti anunciou nesta quarta-feira (5), dia em que completa 71 anos de fundação, o enredo para o próximo carnaval: “Glória ao Almirante Negro!”, desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos, que volta à escola. Ao contrário da maioria das coirmãs, a Azul e Amarela não fez disputa de samba e encomendou a composição.

A escola de São Cristóvão vai entrar na Avenida homenageando a vida e história de João Cândido, marinheiro brasileiro que se empenhou na luta contra os maus-tratos, a má alimentação e as chibatas sofridas pelos colegas.

“Fomos muito felizes com um enredo crítico em 2018, chegando ao vice-campeonato do Grupo Especial, abordando os 130 anos da Lei Áurea. Nesse meu retorno ao Tuiuti, resgatamos mais uma história de resistência e libertação do povo preto. ‘Glória ao Almirante Negro!’ é uma louvação a quem deve ser tratado como herói. Por isso, nos inspiramos nas histórias em HQs para fazer essa identidade visual do enredo”, explica o carnavalesco.

A ilustração do enredo foi feita pelo designer e ilustrador Antônio Vieira, que se inspirou no universo dos quadrinhos para criar a arte que remete a uma capa de HQ.

O Almirante Negro viveu em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, onde seus descentes vivem até hoje. O filho caçula, Adalberto Cândido, conhecido como seu Candinho, disse que ficou emocionado com a homenagem da azul e amarelo de São Cristóvão. E os familiares já confirmaram presença no desfile da agremiação.

“Para mim e para minha família, é um orgulho imenso”, disse Candinho, filho do Almirante Negro.

O samba encomendado é criação de Claudio Russo, Moacyr Luz, Gustavo Clarão, Júlio Alves, Alessandro Falcão, Pier Ubertini e W Correia.

Liberdade no coração
O dragão de João e Aldir
A Cidade em louvação
Desce o Morro do Tuiuti

Nas águas da Guanabara
Ainda o azul de Araras
Nascia um herói libertador
O mar com as ondas de prata
Escondia no escuro a chibata
Desde o tempo do cruel contratador
Eram navios de guerra, sem paz
As costas marcadas por tantas marés
O vento soprou à negrura
Castigo e tortura no porão e no convés

Ôôô A Casa Grande não sustenta temporais
Ôôô Veio dos Pampas pra salvar Minas Gerais

Lerê lerê mais um preto lutando pelo irmão
Lerê lerê e dizer nunca mais escravidão

Meu nego… A esquadra foi rendida
E toda gente comovida
Veio ao porto em saudação
Ah! nego… A anistia fez o flerte
Mas o Palácio do Catete
Preferiu a traição

O luto dos tumbeiros
A dor de antigas naus
Um novo cativeiro
Mais uma pá de cal
Glória aos humildes pescadores
Yemanjá com suas flores
E o Cais da luta ancestral

Salve o Almirante Negro
Que faz de um samba enredo
Imortal!